“Querido vovô Albino. Sou o Enzo, filho do Jorge. Meu pai conta que não te conheci porque o senhor foi para o céu logo depois que eu nasci. Lembro que, um dia, o papai e a mamãe me colocaram no carro e saíram correndo para encontrar o senhor. Foi uma viagem muito longa. Eu era bem pequeno, tinha uns 8 meses. Quando chegamos, tinha muita gente chorando em volta do senhor. A vovó estava muito triste. Comecei a brincar e a sorrir e ela ficou bem mais alegre.

Fomos à sua casa e o papai mostrou sua foto. Disse que eu era parecido contigo. Fiquei orgulhoso, pois você é forte e bonito, mas estranhei aquele monte de pelos em cima do lábio e os óculos. Papai me levou ao porão da casa e, emocionado, mostrou a bicicleta de ferro que o senhor construiu. Eu era pequeno e não podia andar. Meus irmãos já andaram bastante. Agora estou crescido e quero ir andar nela.

Também vi a bigorna e o martelo brilhando com a luz do sol que passava pela janela. Papai disse que era a sua ferramenta de trabalho e que o senhor era igual ao super-herói Thor, aquele que tem um martelo poderoso. Achei um exagero, mas, então, ele mostrou o arado, as ferraduras, as rodas de carroças, as peças de ferro feitas no fogo e mudei de ideia. Você era um super-herói.

Depois fomos à chácara ver onde o senhor plantava milho e alimentava as vacas. Caminhamos na beira do riozinho e brincamos nos galhos do velho plátano. Paramos para admirar os lindos pinheiros que você e o papai plantaram. Estão gigantes e cheios de pinhão. Ah, para chegar lá nós fomos no velho Corcel azul. Papai disse que foi o primeiro e único carro em sua vida, vovô, e que o senhor aprendeu a dirigir aos 50 anos. Ah, ele também falou que o senhor viu o mar pela primeira vez aos 50 anos. Que o senhor ficou parado admirando aquele monte de água. Engraçado, eu também fiquei assim, vovô.

Depois fomos àquela igreja gigante, com torres enormes, aonde o senhor ia toda semana rezar. O pai falou que não gostava muito, mas que ia contigo e com a vovó. Hoje ele agradece, pois se o senhor não tivesse insistido, ele não acreditaria em Deus. Vovô, o papai não fala, mas sei que ele sente muito sua falta. Às vezes, olha sua foto e depois fica olhando para o céu. Fica te procurando, pois diz que Deus transforma as pessoas boas em estrelas brilhantes. No Dia dos Pais, ele sempre faz isso.

Papai não sabe, mas as crianças enxergam as almas puras. Já vi sua estrela brilhar várias vezes. É um segredo nosso, vovô. Também vi a estrela da vovó Carolina, que foi para o céu há pouco tempo. Ela estava sentada ao seu lado, sorrindo e olhando para mim. Estava contente. Sei que vocês estão bem e zelando por todos nós. E olha, eu sou parecido com o senhor sim. Não sei se vou deixar o bigode crescer, mas serei uma pessoa boa e generosa assim como o senhor foi”.
Feliz Dia dos Pais, vovô!!!!

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