Lá vem o frio, com suas manias, dores, flores e cores. E com ele algumas frutas de época como o pinhão, a laranja e a bergamota. Nada mais gostoso do que reunir a família e os amigos ao redor do fogão a lenha e comer pinhão na chapa ou na panela.


Nada melhor do que, num dia frio, sentar ao sol e saborear umas bergamotas. Quem não subiu numa bergamoteira para saciar a sede? Tudo bem, talvez um ou outro não tenha tido o prazer desta aventura. Hoje é mais prático “colher” a fruta no mercadinho do que arranhar a pele nos espinhos da planta.


Bem, sou do tempo em que os carroceiros paravam em frente à ferraria do meu pai para vender bergamotas por unidade. Sim, nada de quilo. Você podia comprar 50 ou 100 bergamotas. O cesto de vime ficava ali, de prontidão para ser enchidop da fruta amarela. Nos dias frios, eu e meu irmão sentávamos na escada da varanda para saborear a fruta ao calor do sol. À noite tinha outra rodada, sem contar as inúmeras bergamotas chupadas entre uma brincadeira e outra. Às vezes era tão frio que esquentávamos a fruta na chapa do fogão.


Quando o carroceiro não aparecia, nós íamos até as bergamoteiras. Lembro do Sr. Valdir Dassoler, pai do meu amigo Gladstone, dono de um armazém de secos e molhados, que nos domingos lotava a carroceria do seu Chevrolet com crianças e levava para as colônias próximas a Cotegipe. Era uma festa. Primeiro, pelo fato de andar de caminhão. Segundo, porque nas colônias subíamos nas bergamoteiras e comíamos à vontade.


Quando seu Valdir não podia levar, íamos em turma até uma chácara com uma grande plantação de laranjas e bergamotas. Era de uma família polonesa que morava na saída de Cotegipe para São Roque, cujo nome não lembro. O mais engraçado é que na época havia duas formas de pagamento. Uma era por “barrigada”, ou seja, você comia a vontade e pagava, digamos R$ 5,00. Se quisesse comprar 100 unidades, por exemplo, pagava R$ 10,00. Passávamos a tarde embaixo das bergamoteiras e laranjeiras brincando e comendo.


O pinhão é outra paixão. Enquanto escolho as melhores sementes embarco numa viagem de recordações. Lembro quando eu e meus amigos assávamos o pinhão nas grimpas em meio ao mato. Lembro dos vendedores de beira de estrada com bochas e pinhões graúdos e de um vermelho forte. Lembro quando meu pai selecionou as melhores e mais bonitas sementes e foi plantar na chácara. Hoje eles estão enormes, dando milhares de sementes a cada temporada.


Muito mais que o valor nutricional, cada uma destas frutas, ou semente, traz uma série de lembranças que persistem no fundo da nossa memória. Aqui em São Paulo, a bergamota que conhecemos no sul é chamada de mexerica-do-rio. O dicionário Aurélio diz que bergamota é uma palavra turca, que quer dizer “pêra do príncipe”. Já a palavra mexerica remete para tangerina.

Bem, a ponkan é mais doce e fácil de descascar.

2 Comentários

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  1. Amigo Jorge!
    Poderia chamá-lo de irmão se não gerar controvérsia, pois amigo como você são uma raridade. Primeiro parabéns pela criação deste blog, que muito orgulha os cotegipenses da "gema".Segundo por relembrar fatos e histórias que nos enchem de saudade. Te juro que me emocionei quando vi a foto do melhor ferreiro, não da cidade, mas da região. Seu Albino massarolo. Que orgulho ter um pai como o seu. Que saudade dessa gente que só nos deixaram exemplos bons. Quantas peças destruídas do trator que ele refêz, consertou, enfim fazia milagres. E a história das bergamotas. Se pudéssemos voltar o tempo, como éramos felizes. As alternativas que tínhamos para nos divertir. Hoje somos escravos de tudo e os nossos filhos parecem que estão "emburrecendo". Um abraço do amigo Xirú.

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  2. Meu amigo Xirú,
    é com grande prazer que recebo seu comentário. Como já relatei aqui, tenho muitas boas lembranças do seu pai. Ele foi uma pessoa importante na nossa infância. Quantas vezes andamos na carroceria do caminhão. Pra nos, crianças, era uma festa. Uma diversão muito sadia, em contato com a terra e com a liberdade, mesmo que depois viessem umas palmadas.
    Continue mandando seus belos comentários.
    forte abraço
    Jorge

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