No blog do Dr. Luiz Carlos Piazzetta - https://emigrazioneveneta.blogspot.com.br - encontrei uma bela definição do "filó", hábito cultivado entre as famílias italianas de visitar vizinhos ou parentes à noite. Lembro muito bem das caminhadas à noite até a casa do tios Mósena (Benjamim e Valentim), e da tia Severina Meneghel, para fazer o "filó". 

Era uma aventura, pois íamos a pé, com pequenas lanternas ou lampiões a iluminar o caminho, e sempre tinha alguém contando história de lobisomem ou mula sem cabeça, só para aterrorizar a criançada.

Lembro que nas casas sempre havia farta comida, mas o que eu gostava mesmo era do saboroso milho verde recém colhido, suco de uva, frutas e outras coisas mais. Enquanto os adultos conversavam, a molecada corria em volta da casa, brincava, fazia o diabo. Muito gostoso.




Veja a origem desse costume nas palavras do Dr. Piazzetta: 

"Entre os importantes hábitos sociais cultivados pelos imigrantes vênetos que colonizaram as terras gaúchas, estava o do "filò", que era um encontro fraternal entre os componentes de famílias vizinhas, que tinha início com o cair da noite, após uma jornada dura de trabalho no campo. Era um momento para o relaxamento e descontração, que unia jovens e velhos de ambos os sexos. 

Este hábito, que foi trazido da Itália, servia como um momento de ajuda recíproca com a troca de informações pessoais e coletivas, de confidências e conselhos sobre a saúde, o andamento da plantação e das colheitas. Era o espaço em que se podia saber das novidades ocorridas com as famílias vizinhas, tanto as boas como também aquelas tristes. Este encontro informal ocorria cada vez na casa de um vizinho, sempre nas estrebarias, junto com o gado, que com o seu calor aquecia o ambiente, assim como se fazia por séculos nas terras de origem, deixadas para trás com a emigração. 

Cantavam se estavam alegres, jogavam, contavam histórias e ao mesmo tempo faziam pequenos trabalhos manuais, em que todos participavam. As mulheres, enquanto falavam, faziam cestas, bolsas, estas chamadas de "sporte" e chapéus com a palha entrelaçada - la dressa - para uso da família e à vezes também para serem vendidos no mercato mais próximo. Nos dias de inverno também faziam trabalhos com a lã, como o tricot ou remendavam as roupas da família. As moças que pretendiam se casar e aquelas já noivas, aproveitavam para fazer o próprio enxoval. Sempre era servido alguma coisa para comer e beber, conforme a estação do ano. 

Cada família levava alguma coisa de casa, aquilo que podia, e juntos, dividiam alegremente. O filó era também o momento esperado, em que os rapazes e moças travavam conhecimento e começavam fortuítos namoros, início da maioria dos casamentos daquela época. O filó foi também a maneira encontrada pelas coletividades de imigrantes para, com o estar juntos reunidos, poderem mitigar o sofrimento e as saudades da terra natal, dos parentes e amigos deixados para trás com a radical mudança de vida causada pela emigração. 

Com esses encontros firmava-se cada vez mais o sentimento de pertencer a uma comunidade e isso criava as condições para a fixação e o enraizamento daqueles imigrantes. Juntamente com a forte e decisiva presença feminina, os filós muito concorreram para o sucesso alcançado pela imigração vêneta e italiana em solo gaúcho."

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



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